domingo, 4 de novembro de 2012

FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DA ESCOLA ESTADUAL RUI BARBOSA, EM CORONEL BICACO


 
No dia 17 de outubro, trabalhei com os professores da Escola Estadual Rui Barbosa, o tema “Leitura e Escrita: compromisso de todas as áreas”, durante a palestra procurei reforçar a ideia de que ler e escrever, por suas particularidades formais e funcionais, são competências mais especificamente desenvolvidas no ambiente escolar, sendo de responsabilidade de todos, considerando que: a leitura e a escrita perpassam toda a produção de conhecimento (e sua (re)construção) em todas as disciplinas e suas práticas pedagógicas; o desenvolvimento das capacidades de leitura dos alunos supõe conhecimentos específicos (das várias disciplinas) que muitas vezes o professor de português não possui; e em diferentes disciplinas circulam  gêneros, cujo domínio pode favorecer os processos de compreensão e produção de textos. Consequentemente, os alunos que tiverem um bom domínio da leitura e da escrita se sairão bem em todas as outras áreas do conhecimento.

Na oportunidade, também destaquei que os alunos darão o devido valor a leitura e a escrita quando sentirem a necessidade destas para sua participação na sociedade atual, considerada sociedade do conhecimento. Assim, foram também trabalhadas algumas possibilidades metodológicas para encantar e envolver os alunos com o mundo da leitura e da escrita, que representa um dos maiores desafios da educação. Foi maravilhoso trabalhar com estes educadores que estão dispostos a fazer a diferença na educação!

 















ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA VOLTADO À FORMAÇÃO DE UM ALUNO LINGUISTICAMENTE COMPETENTE[1]


 

Irinês Zorzo[2]

Luciane Sippert[3]

 

 

            As transformações ocorridas no mundo do trabalho remetem ao processo de globalização da economia em um mundo cada vez mais impactado pelo avanço científico-tecnológico. Tais transformações aos poucos vão influenciando os processos educativos, cujas características apontam para um novo paradigma de educação: pedagogia de competências.

            A rapidez com que evolui o conhecimento faz da educação o principal fator de promoção das competências, assumindo centralidade nas questões relacionadas à formação humana na sua totalidade, contemplando as dimensões físicas, emocionais, culturais, cognitivas e profissionais.

            Os conteúdos referenciais definidos para um currículo e o tratamento que a eles deve ser dado assumem papel relevante, uma vez que é basicamente na aprendizagem e no domínio desses conteúdos que se dá a construção e a aquisição de competências.

            Nessa perspectiva, valoriza-se uma concepção de instituição educacional voltada para a construção de uma cidadania crítica, reflexiva, criativa e ativa, de forma a possibilitar que os/as estudantes consolidem suas bases culturais permitindo identificar-se e posicionar-se perante as transformações na vida produtiva e sociopolítica.

            Nos anos iniciais do ensino fundamental, o estudante estabelece interações entre a língua que fala em seu cotidiano e a língua ensinada pela escola, formulando hipóteses sobre suas diferenças e usos, principalmente no domínio da língua que se escreve. Nos anos finais, ele deve observar a língua como objeto de estudo e referencial cultural, analisando o discurso do outro em relação ao seu próprio discurso e vice-versa.

            O desenvolvimento da competência linguística do estudante no ensino fundamental – anos finais – está pautado na construção de referenciais básicos para refletir sobre a língua que ele fala-ouve-lê-escreve com a finalidade de saber explicá-la para poder usá-la em diferentes situações de comunicação. Gradativamente ele vai-se apropriando de procedimentos de análise e reflexão, ou seja, adquirindo uma consciência linguística dos usos da língua e de sua diversidade por meio da compreensão de padrões gramaticais, textuais, estilísticos e de uma metalinguagem construída teoricamente para explicá-los.

            Os conteúdos do ensino fundamental priorizam os processos de usos da língua em situações de leitura (compreensão, análise e interpretação) e de produção de textos falados e escritos, sendo a reflexão sistematizada sobre o texto, um instrumento para compreender esses processos.

            A língua é um referencial de pensamento e de ação e bem se sabe que as diferenças sociais perpassam o seu domínio e uso. Dominá-la significa reconhecê-la como um poder simbólico para argumentar, confrontar opiniões, expressar o pensamento em diferentes contextos sociais.

            As habilidades retomam o currículo do ensino fundamental – anos finais – para Língua Portuguesa contemplando os cinco principais grupos de estudo da área que se interligam por princípios gerais – letramento e diversidade. Os grupos de estudo são comuns para todos os anos do ensino fundamental e também do médio: Oralidade e expressão; Leitura; Conhecimentos literários; Conhecimentos linguísticos; Produção de textos escritos.

            A integração entre as disciplinas e as áreas deve ser efetivada com o desenvolvimento de atividades mais globalizadas, envolvendo várias habilidades comuns e conectando conceitos e contextos, que deverão estar presentes no planejamento do professor. Nesse sentido, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, os Objetivos Gerais do Ensino da Língua Portuguesa passam a ser:

- Reconhecer que há uma valorização social da modalidade culta da língua, isto é, aquela empregada nas situações formais de comunicação.

- Desenvolver habilidade de leitura e produção de textos em função das necessidades da vida social.

- Desenvolver capacidade de estabelecer relações entre os diversos textos: aspectos históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais (éticos, estéticos, afetivos).

- Servir-se, com propriedade, das convenções ortográficas da língua portuguesa.

            As aulas de língua portuguesa, nessa perspectiva, devem constituir-se em espaços privilegiados para o estudante verbalizar as suas diferentes representações sociais e culturais, e potencialmente sistematizar as identidades de grupos que sofrem processos de deslegitimação social. Conviver com as diferenças, reconhecê-las como legítimas e saber defendê-las em espaço público fará com que o estudante reconstrua sua cultura pela linguagem verbal.

            Na escola, a transposição didática desses estudos pode refletir o conservadorismo de determinados pontos de vista que nada possuem de teórico e são fundados no senso comum.

            O debate e o diálogo, as perguntas que desmontam as frases feitas, a pesquisa, entre outros, seriam formas de auxiliar o estudante a construir um ponto de vista articulado sobre a língua em estudo.

            Ao procurar compreender a língua e suas atualizações discursivas em textos, como sinônimos da comunicação humana, o estudante aprende a produzir textos para fins determinados.

            A aprendizagem do caráter produtivo da língua faz parte constante do controle sobre o texto que será elaborado. O fazer comunicativo exige formas complexas de aprendizagem. Deve-se reconhecer o quê e o como escrever, depois dessa análise reflexiva, tenta-se a elaboração, com a consciência de que ela será sempre provisória porque depende da avaliação do outro e de suas expectativas.

            Para que a aprendizagem do aluno favoreça a formação da sua cidadania e autonomia, os processos avaliativos devem ser sensíveis às diferenças que permeiam a sala de aula e o contexto socioeducacional, devendo, a prática avaliativa, facilitar o diálogo e a mediação entre as várias histórias de vida que a instituição educacional acolhe.

            Os conteúdos trabalhados na instituição educacional precisam ser abordados de forma que todos aprendam, cabendo aos professores a tarefa de viabilizar aprendizagens significativas, incluindo-se o desenvolvimento das habilidades, valores e atitudes. Consequentemente, a forma de ensinar e de avaliar os conteúdos permitirá ao aluno uma visão ampliada das diversas relações estabelecidas entre os componentes curriculares e as áreas do conhecimento, e da função que elas assumem na sua formação. Espera-se, portanto, que o processo de avaliação desvele ao aluno o que ele aprende e como ele aprende, para que o mesmo desenvolva a confiança em sua forma de pensar, de analisar e de enfrentar novas situações.

 

 



[1] Texto introdutório do Referencial Curricular de Língua Portuguesa, do município de Tucunduva.
[2] Professora de Língua Portuguesa do Município de Tucunduva.
[3] Professora que assessorou a elaboração dos Referenciais Curriculares de Língua Portuguesa, do município de Tucunduva.