Irinês
Zorzo[2]
Luciane
Sippert[3]
As
transformações ocorridas no mundo do trabalho remetem ao processo de
globalização da economia em um mundo cada vez mais impactado pelo avanço
científico-tecnológico. Tais transformações aos poucos vão influenciando os
processos educativos, cujas características apontam para um novo paradigma de
educação: pedagogia de competências.
A
rapidez com que evolui o conhecimento faz da educação o principal fator de
promoção das competências, assumindo centralidade nas questões relacionadas à
formação humana na sua totalidade, contemplando as dimensões físicas,
emocionais, culturais, cognitivas e profissionais.
Os
conteúdos referenciais definidos para um currículo e o tratamento que a eles
deve ser dado assumem papel relevante, uma vez que é basicamente na
aprendizagem e no domínio desses conteúdos que se dá a construção e a aquisição
de competências.
Nessa
perspectiva, valoriza-se uma concepção de instituição educacional voltada para
a construção de uma cidadania crítica, reflexiva, criativa e ativa, de forma a
possibilitar que os/as estudantes consolidem suas bases culturais permitindo
identificar-se e posicionar-se perante as transformações na vida produtiva e
sociopolítica.
Nos
anos iniciais do ensino fundamental, o estudante estabelece interações entre a
língua que fala em seu cotidiano e a língua ensinada pela escola, formulando
hipóteses sobre suas diferenças e usos, principalmente no domínio da língua que
se escreve. Nos anos finais, ele deve observar a língua como objeto de estudo e
referencial cultural, analisando o discurso do outro em relação ao seu próprio
discurso e vice-versa.
O
desenvolvimento da competência linguística do estudante no ensino fundamental –
anos finais – está pautado na construção de referenciais básicos para refletir
sobre a língua que ele fala-ouve-lê-escreve com a finalidade de saber
explicá-la para poder usá-la em diferentes situações de comunicação.
Gradativamente ele vai-se apropriando de procedimentos de análise e reflexão,
ou seja, adquirindo uma consciência linguística dos usos da língua e de sua
diversidade por meio da compreensão de padrões gramaticais, textuais,
estilísticos e de uma metalinguagem construída teoricamente para explicá-los.
Os
conteúdos do ensino fundamental priorizam os processos de usos da língua em
situações de leitura (compreensão, análise e interpretação) e de produção de
textos falados e escritos, sendo a reflexão sistematizada sobre o texto, um
instrumento para compreender esses processos.
A
língua é um referencial de pensamento e de ação e bem se sabe que as diferenças
sociais perpassam o seu domínio e uso. Dominá-la significa reconhecê-la como um
poder simbólico para argumentar, confrontar opiniões, expressar o pensamento em
diferentes contextos sociais.
As
habilidades retomam o currículo do ensino fundamental – anos finais – para
Língua Portuguesa contemplando os cinco principais grupos de estudo da área que
se interligam por princípios gerais – letramento e diversidade. Os grupos de
estudo são comuns para todos os anos do ensino fundamental e também do médio:
Oralidade e expressão; Leitura; Conhecimentos literários; Conhecimentos
linguísticos; Produção de textos escritos.
A
integração entre as disciplinas e as áreas deve ser efetivada com o
desenvolvimento de atividades mais globalizadas, envolvendo várias habilidades
comuns e conectando conceitos e contextos, que deverão estar presentes no
planejamento do professor. Nesse sentido, segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais, os Objetivos Gerais do
Ensino da Língua Portuguesa passam a ser:
- Reconhecer que há uma
valorização social da modalidade culta da língua, isto é, aquela empregada nas
situações formais de comunicação.
- Desenvolver habilidade de
leitura e produção de textos em função das necessidades da vida social.
- Desenvolver capacidade de
estabelecer relações entre os diversos textos: aspectos históricos, sociais,
políticos, econômicos e culturais (éticos, estéticos, afetivos).
- Servir-se, com
propriedade, das convenções ortográficas da língua portuguesa.
As
aulas de língua portuguesa, nessa perspectiva, devem constituir-se em espaços
privilegiados para o estudante verbalizar as suas diferentes representações
sociais e culturais, e potencialmente sistematizar as identidades de grupos que
sofrem processos de deslegitimação social. Conviver com as diferenças,
reconhecê-las como legítimas e saber defendê-las em espaço público fará com que
o estudante reconstrua sua cultura pela linguagem verbal.
Na
escola, a transposição didática desses estudos pode refletir o conservadorismo
de determinados pontos de vista que nada possuem de teórico e são fundados no
senso comum.
O
debate e o diálogo, as perguntas que desmontam as frases feitas, a pesquisa,
entre outros, seriam formas de auxiliar o estudante a construir um ponto de
vista articulado sobre a língua em estudo.
Ao
procurar compreender a língua e suas atualizações discursivas em textos, como
sinônimos da comunicação humana, o estudante aprende a produzir textos para
fins determinados.
A
aprendizagem do caráter produtivo da língua faz parte constante do controle
sobre o texto que será elaborado. O fazer comunicativo exige formas complexas
de aprendizagem. Deve-se reconhecer o quê e o como escrever, depois dessa
análise reflexiva, tenta-se a elaboração, com a consciência de que ela será
sempre provisória porque depende da avaliação do outro e de suas expectativas.
Para
que a aprendizagem do aluno favoreça a formação da sua cidadania e autonomia,
os processos avaliativos devem ser sensíveis às diferenças que permeiam a sala
de aula e o contexto socioeducacional, devendo, a prática avaliativa, facilitar
o diálogo e a mediação entre as várias histórias de vida que a instituição
educacional acolhe.
Os
conteúdos trabalhados na instituição educacional precisam ser abordados de
forma que todos aprendam, cabendo aos professores a tarefa de viabilizar
aprendizagens significativas, incluindo-se o desenvolvimento das habilidades,
valores e atitudes. Consequentemente, a forma de ensinar e de avaliar os
conteúdos permitirá ao aluno uma visão ampliada das diversas relações
estabelecidas entre os componentes curriculares e as áreas do conhecimento, e
da função que elas assumem na sua formação. Espera-se, portanto, que o processo
de avaliação desvele ao aluno o que ele aprende e como ele aprende, para que o
mesmo desenvolva a confiança em sua forma de pensar, de analisar e de enfrentar
novas situações.
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